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O MAGO NUNCA SE ATRASA

Janus - Deus da Transição

Esteja preparado para uma grande movimentação em sua vida. Vim para findar e iniciar coisas e lhe permito olhar seu passado e futuro!


Janus, ou Janos, é o Deus Romano dos começos, dos fins, das passagens, das portas, das entradas, das saídas, da transição, da guerra, da paz, do passado, do futuro, da dualidade, da mudança, do tempo, da criação, do intercâmbio, do comércio, do transporte, das viagens, dos barcos, do lar, da profecia, da vida e da morte. Há muita discussão sobre a origem do nome Janus e seu significado, porém, não há nenhum consenso geral. Alguns eruditos antigos dizem significar “Estar aberto” como uma alusão aos atributos de abertura de Janus e de sua primeira manifestação como o Caos primordial; já outros alegam significar “Dia” ou “Brilho” como uma referência a Janus sendo o sol e Jana sua consorte a lua; e ainda há os estudiosos modernos que alegam que o significado seria algo como um “movimento de transição”.

Existem poucos mitos conhecidos a respeito do Deus Janus, mas o poeta Ovídio fez uma descrição muito precisa de Janus em sua obra Fastos. Nela Janus é descrito como a força primordial que deu forma ao universo onde era chamado de Caos (diferente do Deus Caos Grego). Após moldar o universo esta força suprema toma a forma de um deus com duas cabeças em que suas faces olham ambas para direções opostas, no caso Janus. Portanto, a existência de Janus é dividida em duas etapas: a primeira como uma massa disforma denominada Caos e que não representa desordem em si, mas total falta de objetividade, ou seja, confusão por tudo ser uma única coisa; e a segunda, que é quando o deus toma uma forma após organizar e ordenar cada coisa no universo. Ou seja, não existem duas deidades, apenas Janus que é tanto o deus de duas faces quanto o princípio amorfo inicial. Ainda assim, podemos criar um paralelo entre Janus e o Deus Criador Grego Caos, pois tanto Janus quanto Caos estavam no princípio de tudo e representam o todo cósmico universal. Porém, vale ressaltar que esse paralelo não significa que Janus foi sincretizado com Caos, apenas que as deidades possuem campos específicos de atuação bastante semelhantes, pois Janus na realidade não foi sincretizado com nenhuma divindade conhecida.

Janus é, por consequência, o princípio de tudo, o movimento inicial de qualquer coisa que aconteça no universo e tudo se move sobre sua vontade, desde eventos naturais até a ação dos deuses. Era chamado nos tempos antigos de Janitor, um epíteto que o classifica como o porteiro, pois conforme Sua vontade as portas que guardam a paz ou a guerra seriam abertas ou fechadas. Essas forças intrínsecas a Janus (início/fim, paz/guerra) o classifica como uma divindade dual e para tudo que exista duas possibilidades Janus mantém domínio.

Ele foi o inventor das guirlandas, dos botes e dos navios, assim como o primeiro a criar moedas em bronze. É considerado como o primeiro rei do Lácio, região da Itália Central, e foi aquele que recepcionou Saturno quando este foi expulso das regiões celestes pelo seu filho Júpiter. Juntos deram início a famosa Era de Ouro da humanidade, fornecendo aos seres humanos um tempo pleno de paz, dinheiro e trabalho em abundância, alegria, fartas colheitas através do desenvolvimento da agricultura e um aumento substancial do comércio. Casou-se com Carmese quando migrou da Tessália para o Lácio e teve três filhos conhecidos: Aethex, Olistene e Tiberinus. Nesse âmbito podemos perceber que Janus foi um homem mortal deificado após sua morte e que veio a se tornar a divindade romana mais importante até sua cristianização por Constantino (o que reafirma sua condição de deus da dualidade, pois é um homem divinizado ao mesmo tempo em que é o Grande Deus Criador do Cosmos). Também há fontes que dizem que Ele se casou com a ninfa Juturna com quem teve Fontus, Deus das Fontes.

A origem de Janus pode ter sido no Deus Etrusco Ani, pois Ele também era representado com duas cabeças olhando em direções opostas e era um deus celestial que guardava as portas do céu. Como os etruscos influenciaram muito na criação da civilização romana essa comparação de certa forma é plausível. Há também o Deus Sumeriano Usmu que também é representado com duas faces, mas uma possível ligação nesse ponto se torna mais obscura. Outro ponto é a da comparação que algumas fontes fazem entre o Deus Grego Hermes e Janus, pois Hermes é o mensageiro dos deuses que tem acesso a todos os reinos, assim como Janus também mantém este acesso por ser o porteiro e o portador da chave, mas sinto essa ligação por demais fraca e especulativa. Foram tentadas outras comparações também, mas são apenas semelhanças entre divindades e não uma auxiliando na criação do mito de outra: Aditi, Heimdallr, Brahma, Svetovid, Belinus, Hécate, etc.

Na Roma Antiga um de seus templos era feito de madeira dando a sugerir que seu culto era muito antigo. Mas, apesar da simplicidade gritante de seu templo e por não existirem sacerdotes dedicados ao trabalho exclusivo de Janus (com exceção do Rex Sacrorum, o cargo sacerdotal de maior prestígio – não poder – em Roma, e de seus assistentes), Ele era a divindade mais importante para aquele povo. Nenhuma ação era iniciada sem invocar as bênçãos desse deus sobre sua própria vida. Isso é notório, pois ao pesquisar as listas latinas das divindades o nome de Janus aparece sempre em primeiro lugar. Neste templo, chamado Argiletum, figurava uma escultura do deus em sua forma mais recorrente de ilustração: um homem barbudo com duas cabeças em direções opostas. Outro detalhe importante sobre Janus era que seu templo tinha uma porta
dupla chamada de Portões da Guerra. Quando havia paz as portas eram fechadas, para manter a guerra fora e a paz dentro da nação. Quando havia guerra as portas eram mantidas abertas, para mandar a guerra embora e recepcionar os combatentes na volta para casa. É claro que, Roma sendo uma civilização bélica por excelência, quase sempre estava em guerra e, por isso, as portas estiveram fechadas por apenas 3 vezes, como atestam os arquivos históricos (o ato de abrir ou fechar as portas foi um costume tardio de Roma).

Ele é uma divindade que por simbolizar os começos era sempre invocado no início de tudo: ao manhecer, nos ritos gerais, no primeiro dia do mês, no primeiro dia do ano, etc. Tanto que o nome do mês de Janeiro deriva de seu nome como divindade. Janus, portanto, era invocado antes de quaisquer oferendas e libações e até mesmo atos profanos, mesmo que o rito principal fosse para outra divindade e, assim, fazia também contraparte com a Deusa Vesta que era invocada ao final de quaisquer atos mágicos ou não. Isso era muito importante para os Romanos Antigos, assim como atesta Ovídio em sua obra Fastos:

“Por que, embora deva aplacar os outros deuses, Janus, devo trazer o incenso e o vinho primeiro a você?
Para que você possa acessar através de mim, que guardo o limiar, aquilo que deseja junto aos deuses.
Por que são alegres as palavras ditas nas Calendas, e nós desejamos uns aos outros bênçãos?
Para que Eu incline à pessoa, com a mão direita, o princípio de Tudo que está presente neste ato.
A primeira palavra dirigida aos ouvidos é como o augúrio do primeiro pássaro visto pelo adivinho.
Mantenha o templo e os ouvidos abertos para Mim, nem diga quaisquer coisas em vão, pois as palavras têm poder.”

Janus tinha um trabalho conjunto com várias outras deidades além de Vesta: com os Lares é invocado para proteger o lar; com as Horas é o guardião dos portões celestiais e aquele que permite o início de um novo dia; com Marte e Quirino é aquele que inicia e finda as guerras e as batalhas; com Portuno e Cardea é o guardião das portas; com Summanus recebia as oferendas com preces de bênçãos um dia antes do Solstício de Inverno; com Saturno abençoava as colheitas; com Júpiter permitia o início das estações; com Boreas liberava os ventos para o mundo; com Juno abençoava os partos; etc.

Janus já foi representado em esculturas, pinturas e até cunhado em moedas (como é feito até hoje em Roma) e por vezes aparece com as duas cabeças barbudas, por vezes uma cabeça barbuda e a outra sem barba, as duas sem barba e muitas das vezes portando também uma chave e/ou um báculo, que são símbolos de abertura per se como também de fechamentos e de autoridade, respectivamente, as principais funções do deus. Houve também uma estátua de Janus com quatro cabeças construída olhando para os quatro fóruns romanos sob as ordens do Imperador Domiciano, contudo, este trabalho não foi encontrado a não ser nos registros latinos. Dentre outros símbolos do deus temos a oliveira brava e o lodoeiro que eram árvores utilizadas na fabricação de navios que recebiam as bênçãos de Janus. Suas oferendas consistem em bolos, água, sal puro, incenso, vinho e cordeiros.

Era venerado especialmente em 1º de Janeiro (início do ano), nas Calendas (todo primeiro dia de um mês), no festival da Agonália que ocorria em Janeiro, em 9 de Janeiro o Rex Sacrorum oferecia um carneiro a Janus, nos Ritos da Salii (1º, 14, 17 e 19 de Março e 1º, 19, 23 e 31 de Outubro) realizavam-se os ritos de início e fim das guerras, em 1º de Junho era venerado junto a Deusa Cardea, no dia 29 de Junho era invocado junto a Quirino, no dia 17 de Agosto em que as pessoas ofereciam as chaves de suas casas ao fogo sagrado de Janus para que Ele abençoasse suas residências, na Janual (um dia antes do Solstício de Inverno onde se deitavam oferendas para Janus junto com o Deus Summanus) e em todos os dias de manhã – que era o turno do dia consagrado ao deus – os romanos agradeciam a Janus.

Janus, portanto, é aquele se apresenta para nos mostrar que questões como bem/mal, dia/noite, fé/descrença ou qualquer coisa que seja dual na realidade são separadas apenas pelos humanos, pois a divindade é em si mesma detentora de todos os mistérios e encerra em si mesma o conceito do Um, do Todo. Janus nos permite observar os ciclos que já passaram e visualizar o que o futuro nos reserva em virtude das escolhas que já fizemos e fazemos no presente. Ele traz consigo o poder da transição de um estado para outro e traz sempre movimento a existência. Sem Janus o mundo seria uma massa amorfa e sem evolução, pois como Ele mesmo diz, sem a mão dele movendo as coisas nem mesmo Júpiter poderia fazer sua obra.

Hino a Janus

Imagem criada pelo canal de TV Fechada
History Channel
Quem é Aquele que se move primeiro e todas as coisas o acompanham?
Quem é Aquele que permanece no limiar e permite a entrada e saída dos viajantes?
Quem é Aquele que detêm o poder superior e com seu báculo de autoridade desfere sentenças?
Esse é Janus, o Princípio de Tudo, a abstração da matéria, o fertilizador da existência!
Poderia o pássaro voar sem que o Ar permanecesse no firmamento?
Poderia o sacerdote tocar a face de Júpiter sem Aquele que o intermediasse?
Quem dentre os Imortais é tão poderoso quanto Tu?
Ave Janus!
O Universo encontra sua própria destruição, mas não consegue destruí-lo,
Pois Você, oh, Janus, é o próprio princípio finalizador de tudo e sem você nada há de suceder.
Quanto mais busco os deuses, mais encontro Você.
Se quero deitar oferendas
Se desejo fazer libações
Se anseio por entender os augúrios da Natureza
Como poderia sem o toque suave de Janus?
Provedor da paz, Janus Pacificus, nada foge ao seu controle
E mesmo que a guerra se faça presente, Janus Belliger, sabemos que com Seu poder ela terá fim.
Deus Divom, Deus dos Deuses, derrame Seu poder com intensidade e mostre sua face protetora.
Muitos são Seus nomes e Suas qualidades
Conceda-nos o adentrar dos mistérios e me torne seu Rex Sacrorum
Consivius, traga a riqueza para minha vida assim como Ceres faz crescer o broto. Venha Duonus Cerus.
Geminus, Janitor, Matutinus, Popanon
O que é ao mesmo tempo duplo, porteiro, a luz da aurora e o que recebe as oferendas
Vós és Janus! Mostre suas quatro faces, Janus Quadrifrons
E retorne com a paz há muito esquecida, Janus Quirino.
Ave Janus! Ave Janus!

Deus Romano Janus
Inspiração pela artista Jedika
Suas equivalências mitológicas
ü  Deus Janus
ü  Deus Quirino
ü  Deus Caos
ü  Deus Ani

Epítetos
ü  Belliger (Portador da Guerra)
ü  Clusius (Aquele que finda / Abóbada Celeste)
ü  Coenulus (Anfitrião)
ü  Consivius (Semeador / Iniciador da Vida)
ü  Curiatius (Sobrenome de Janus associado aos ritos do Tigillum Sororium ao lado da Deusa Juno)
ü  Deus Divom (Deus dos Deuses)
ü  Duonus Cerus (O Bom Criador)
ü  Geminus (Gêmeo / Duplo / Da Semente Seminal)
ü  Janitor (Porteiro)
ü  Junonius (Sobrenome em que era invocado nos trabalhos ao lado da Deusa Juno nas Calendas)
ü  Matutinus (Da Luz da Aurora)
ü  Pacificus (Portador da Paz)
ü  Pater / Januspater (Pai)
ü  Patulcius (Aquele que Abre)
ü  Popanon (O que recebe as oferendas)
ü  Potissimum Melios Eum Recum (Mais poderoso dentre os Reis)
ü  Quadrifrons (De quatro faces)
ü  Quirino (Aquele que retorna com a paz / O que inicia e finda o ano)
ü  Rex (Rei)

Imagem retirada de The
The Encyclopaedia Probert
of Mythology
Referências
1)    Ovídio, Os Fastos


Dallan Chantal

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