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O MAGO NUNCA SE ATRASA

Introdução ao Paganismo



Que o Ar traga sabedoria a todos!
Que o Fogo faça a transformação!
Que a Água molde os sonhos!
E que a Terra nos dê realização!

Olá pessoal. Meu nome é Dallan Chantal e é com essas palavras de poder e bênçãos que informo a todos que estarei com vocês aqui na Mahou falando sobre paganismo, bruxaria e afins.

Eu sou pagão há pouco mais de 7 anos, iniciado do antigo Coven Tuatha Dé Dannan. Bruxo, sacerdote dedicado a Hécate e Pã e um pouco louco. Como diz a minha mãe, um Maluco Beleza. =P

Mas, no que isso me diferencia de vocês ou me torna especial? Em porra nenhuma! Apenas demonstra que já acessei e acesso determinados mistérios disponíveis a qualquer um que queira seguir o caminho da Terra Batida, a senda dos Antigos, ou, como é dito hoje em dia, A Arte. Isso tudo faz parte de quem eu sou. Ainda assim, fica sempre uma pergunta em mãos para a maioria das pessoas as quais me dirijo: o que é pagão? O que é ser pagão? O que é paganismo?

Repetindo uma velha historinha (quase que mecânica já), pagão vem da palavra latina “paganus” que significa “morador do campo”. Sim, na cidade onde moro (Uberlândia – MG), o bairro onde vivo é bastante pacato, cercado pela natureza (tem até uma plantação de soja/algodão aqui ao lado!) e é o mais periférico dos bairros tanto que só 1km e meio à frente é que há uma placa escrita “Bem-vindo a Uberlândia”. Kkkkkkkkk #SQN

Comparação de escultura da Deusa Egípcia Ísis
com pintura da Virgem Maria Católica
No entanto, ser pagão não tem esse sentido literal da coisa. Assim como hoje nós dizemos em tom depreciativo “caipira” quando vemos alguém que mora na roça, antigamente as pessoas eram chamadas de pagãs pelos cristãos como forma de apontar e dizer: nossa, olha lá, ele ainda cultua deuses antigos e defasados! Sim, pois quando Roma institucionalizou a religião oficial do Estado como sendo o cristianismo as cidades passaram por um processo de evangelização em massa, o que levou todo o Império a adotar a nova fé como doutrina. Nesse processo houve muita assimilação de conteúdo pagão, sincretismo, deturpação de história, queima de arquivos e documentos importantes até se chegar na religião cristã que hoje conhecemos como Catolicismo, ou mais especificamente Igreja Católica Apostólica Romana. Ou seja, tudo aquilo que não fosse cristão era considerado pagão.

Dentre as grandes civilizações pagãs que conhecemos temos os povos gregos, romanos, celtas, egípcios, etruscos, sumerianos, hindus, etc. Cada um destes povos enxergavam a divindade de uma forma particular e única e, no entanto, não visavam diminuir os deuses estrangeiros mesmo com suas conquistas, onde praticamente os assimilavam para tornar a aceitação mais fácil pela nova jurisdição. Com o cristianismo isso veio a ter uma quebra, pois além do intuito de conquistar novas terras e expandir o império, o desejo maior de conquista se dava num nível mais religioso, ortodoxo e fanático, pois queriam destruir os hereges e converter toda a Terra num planeta de adoração ao “único deus vivo”: Jesus. Coitado dele, se soubesse o que iriam fazer em Seu nome Ele nem teria tido o trabalho de iniciar uma reforma religiosa em Jerusalém!

Para se entender o que é o paganismo, porém, é necessário antes disso entender que as grandes diferenças entre essas grandes civilizações não as torna menos ou mais pagãs. Algumas existiam numa forma mais matriarcal, outras mais patriarcal, algumas eram matrilineares enquanto outras já tinham um sistema patrilinear, umas podiam ser matrifocais, mas patrilineares, etc. Para se entender isso melhor, vamos aos conceitos:
  • Matriarcal: sistema onde toda o poderio da vida social, familiar e religiosa se dá na figura central da mulher. Sociedades matriarcais geralmente tinham a figura de uma Deusa suprema acima dos outros;
  • Matrifocal: sistema onde os recursos econômicos, a relação entre esposo e esposa, pais e filhos se dão na figura central da mulher, com ela administrando todos os âmbitos da vida cotidiana familiar;
  • Matrilinear: sistema onde os bens, sobrenomes e descendência é dada através da linhagem materna;
  • Patriarcal / Patrifocal / Patrilinear: as mesmas budegas ditas acima, porém, com o foco na figura masculina.
Essas culturas tinham diversos deuses de culto, ou seja, eram politeístas (algumas raras exceções eram monoteístas), e estes deuses em sua grande maioria representavam forças pelas quais o ser humano não tinha controle, como os raios, os ventos, o tempo, etc. Também eram pessoas que
tinham práticas que nos tempos atuais poderiam ser classificadas como horrendas e arcaicas,
como os sacrifícios animais e humanos, festas orgásticas, etc. Mas, é claro, isso tudo veio a se alterar
Chama Olímpica sendo acesa, uma réplica de costume pagão
com a cristianização do mundo ocidental. Os cultos antigos foram perseguidos e seus adoradores massacrados, as lendas e mitos deturpados, mulheres condenadas à fogueira acusadas de serem bruxas, pessoas foram mortas em nome da fé e Deus! Oh, tadinhos... Concordo. Mas, não pensem que os pagãos eram tão “gracinhas” assim não, pois um bom historiador sabe que nos tempos antigos os romanos davam os cristãos de comer aos leões! Ah, tempos bons... Digo, que horror!

Após tudo isso, passamos por vários períodos em nossa história humana: uma idade das trevas, uma reforma religiosa com Lutero, um clamor pela ciência e a razão com o Iluminismo, até chegarmos no ano de 1.954 quando a última lei contra a prática da bruxaria foi revogada na Inglaterra e o escritor e antropólogo Gerald Brosseau Gardner decide publicar o livro Witchcraft Today (A Bruxaria Hoje) revelando as muitas práticas das bruxas e alegando que o nome da religião delas, que obviamente eram pagãs, é Wicca. Isso causou um rebuliço na comunidade inglesa na época, mas foi a chave para a abertura de uma enxurrada de livros sobre o tema bruxaria e paganismo e um marco na luta pela tolerância à diversidade religiosa.

Hoje sabemos que a Wicca é uma religião pagã e das bruxas, mas não a única. Temos, então: os Asatru, os Wanen, os Helenistas, os Khemeticos, os Druidistas, etc. Mas, um ponto a se levar em consideração é que hoje não existem necessariamente pagãos, mas neopagãos. Ou seja, são os novos pagãos. O paganismo praticamente (não estou falando que foi, mas que quase foi) morreu com a cristianização europeia que veio a se espalhar pelo mundo e como o mundo evolui, as práticas antigas também foram renovadas.

Não se ouve mais falar sobre sacrifícios animais e humanos em quase todas as religiões pagãs atuais, as orgias rituais são desencorajadas em virtude da má índole da maioria de seus organizadores que visam exclusivamente saciarem seus próprios desejos lascivos, são raros os sacerdotes que vivem exclusivamente para o sacerdócio, dentre vários outros fatores. O que, óbvio, não descaracteriza os neopagãos. Mas, falar neopagãos cansa e, como somos um povo sedentário até mesmo pra falar, dizemos apenas pagãos. Óó

Antinous e o Imperador Adriano no Egito
Mas, assim como veio uma grande abertura de mente, veio também um desejo por modismo por se apresentar como diferente e, neste âmbito, vieram algumas misturas excêntricas e estranhas dentre algumas religiões pagãs com o cristianismo que alguns praticantes tentam impor por não desejarem se desgarrar de suas religiões de berço. São as chamadas Pink-Wicca e Wicca Cristã (não me refiro a Bruxaria Cristã, pois a bruxaria pode tanto ser um ofício como um movimento religioso dependendo da visão de quem argumenta). Essas misturas são consideradas absurdas pelos praticantes de religiões pagãs por alguns motivos, dentre os quais:

  1. Wicca é dualista; por vezes politeísta. Cristianismo é monoteísta;
  2. Wicca prega o respeito à natureza. Cristianismo orienta que você deve sujeita-la;
  3. Wicca não é proselitista e abomina tal prática. Cristianismo tem como uma de suas práticas principais o proselitismo;
  4. Wicca reconhece vários caminhos para chegar ao sagrado. Cristianismo dita que só há um;
  5. Wicca vê a Divindade como imanente. Cristianismo como transcendente;
  6. Wicca não crê em um ser que encarna todo o mal em si. Cristianismo tem crença no Diabo;
  7. Wicca diz que pode-se entrar em contato direto com a Divindade. Cristianismo que precisa de um intermediário: pastor, padre, santos, etc;
  8. Wicca orienta a sempre buscar o conhecimento e questionar. Cristianismo que a única fonte de conhecimento está em um livro dito sagrado e que não há nada para ser questionado e, sim, obedecido;
  9. Wicca faz de todos iniciados sacerdotes. Cristianismo só inicia homens, portanto, somente ao gênero masculino é permitido exercer a prática do sacerdócio;
  10. Na Wicca, mulheres tem supremacia de poder; em algumas Tradições, homens e mulheres tem igualdade de liderança. No Cristianismo a mulher é detentora do pecado original e deve ser submissa ao homem;
  11. Na Wicca o sexo é sagrado e puro. No Cristianismo o sexo é impuro e algo que só deve ser praticado para a procriação;
  12. Na Wicca sua orientação sexual é vista como sagrada. No Cristianismo você só chega a Divindade se for heterossexual, pois o que foge disso é abominação;
  13. Wicca é a religião das feiticeiras. No Cristianismo é ensinado que não se deve deixar viver a feiticeira.
Algumas raras tradições cristãs não se enquadram em um ou outro ponto elencado acima, mas, já dá pra se ter uma noção da diferença entre ambas. Decidi expor isso logo de início para que se quebre o paradigma de que para tudo pode se dar um jeitinho. Não! Ou se é cristão ou pagão. O deus cristão não aceita dividir seu culto. Caso você seja pagão, não importa sua religião, tenha orgulho disso e não aceite deturpações pueris para evitarmos mais informações erradas correndo por aí, pois de mentiras que se tornaram verdade de tanto que já foram contadas o mundo está cheio.

Por fim, acho que o que eu tinha para dizer já foi dito: eu sou pagão, tenho orgulho disso e não quero que sequer tentem me dissuadir de minhas crenças/práticas.

Há uma palavra que raramente é usada por um pagão, mas que neste âmbito é muito bem alocada: abominação. Nós pagãos abominamos o proselitismo. Não queremos angariar fieis, não precisamos mostrar que nossa crença é melhor (porque na realidade é melhor apenas para nós mesmos) e, portanto, detestamos quando alguém vem com seu discurso de bondade altruística querendo salvar nossa alma da danação eterna.

Nós não acreditamos na danação eterna, nós não precisamos ser salvos de nada e nós estamos muito bem como estamos. Obrigado. Passar bem e não volte jamais.

Eu não sou infeliz no meu caminho, eu não estou confuso com meus pensamentos e eu não sou o que sou para afrontar a sociedade e muito menos a sua igreja. Eu sou pagão porque eu reconheço o poder e a sabedoria da Natureza, eu sou pagão porque eu amo comungar com meus Deuses (e esse amor é recíproco), eu sou pagão porque me faz bem, eu sou pagão porque busco crescer como pessoa e no meu autoconhecimento, eu sou pagão porque essa é a religião que me deu as respostas que eu buscava, eu sou pagão porque assim eu me sinto preenchido e completo, eu sou pagão porque eu respeito toda forma de vida, eu sou pagão porque a minha Alma nasceu assim.

Portanto, saibam: essa parte da Mahou é pagã e tem tolerância com qualquer movimento que apresente tolerância religiosa. Mas, por favor, não cristianize!

PS.: Quaisquer erros de informações que o texto possa ter são exclusivos meus.

Créditos das Imagens:
Capa: retirado do site https://vickytsafara.blogspot.com.br/p/book.html e elaborado e realizado pela artista Lora Dimoglou.
Demais: imagens da internet (Google).


Dallan Chantal

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