É preciso muita fibra para chegar às alturas e, ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar até o chão.
Na Grécia Antiga conta-se que o Deus Pã caminhava pela floresta até que se deparou com a ninfa Syrinx. Ele tentou de todas as formas seduzi-la, mas ela, horrorizada pela sua aparência bestial, fugiu correndo. O Deus foi atrás da ninfa para desposá-la, mas ao chegar próximo do rio Ladon não mais a encontrou, pois pouco antes, Syrinx vendo que não conseguiria fugir da perseguição do Deus Bode, clamou às náiades que a ajudassem a mudar de forma para escapar das investidas do Chifrudo. As náiades, ouvindo as preces da ninfa, transformaram-na em uma moita de bambus bem no momento em que Pã a agarrava. Porém, a moita de bambus produzia ao toque do vento um som muito belo e de características próprias. Sendo assim, o Deus, encantado com a melodia, cortou os bambus e fez uma flauta com diferentes tamanhos da planta criando assim a famosa Flauta de Pã, que Ele chamou de Syrinx em homenagem à amada.
É uma planta também relacionada à Oyá no Candomblé, pois diz-se que os Eguns (espíritos dos mortos) habitam os bambuzais e, como Oyá, também conhecida como Iansã, é a Orixá dos Egunguns, o bambu foi relacionado à Ela. Por isso nos cultos africanos chama-se Oyá para todo tipo de trabalho com os mortos onde os ebós oferecidos aos Eguns são deixados em meio aos bambuzais.
O bambu é uma planta encontrada de forma nativa em todo o mundo, com exceção da Europa, e que possui aproximadamente 1.250 espécies diferentes em todo o mundo e que consegue se expandir naturalmente por si mesma sem necessidade de replantio desde o nível do mar até 4.000m de altitude. É uma das plantas mais eficazes na reciclagem do ar terrestre, substituindo carbono por oxigênio.
É uma planta muito utilizada na fabricação de diversos tipos de instrumentos musicais (Syrinx, Pife, Quena, Bansuri, Didjeridoo, Shinobue, etc.), assim como na produção de tecidos semelhantes à seda e com propriedades antibacterianas além de ser usado na construção de edifícios à prova de terremotos, pois sua estrutura flexível permite que o edifício suporte a força do movimento que os tremores provocam permitindo com que o edifício “mova-se” junto com os movimentos da terra impedindo com que o prédio desabe. Também existem espécies comestíveis que geram uma enorme renda para países como a China e o Japão.
No Brasil pouco se sabe ou se fala sobre essa planta, mas em outros países, é uma herbácea bastante respeitada, conhecida e utilizada em que até se utilizam de metáforas sobre o bambu para ensinar aos jovens. Provérbios como “Um homem de coração aberto, como o oco do bambu, encontra a sua resistência diante das intempéries por não ser orgulhoso nem se apegar ao material” são bastante conhecidos e repassados de geração em geração.
Trata-se de uma planta que, assim como se expande para o alto, também se expande para baixo, ou seja, possui raízes muito profundas e que não cresce sozinho, mas permite com que outros cresçam em conjunto. Por conseguinte, tira-se várias lições de viver em sociedade e em comunidade, honrando quem você é no meio em que vive, o povo a que você pertence e a terra de onde provém. Mas, ao mesmo tempo é uma planta que traz implícita em si um conceito de dualidade, e por isso mesmo é também usada na arte da guerra: construção de arcos e flechas, espadas, varas, bastões - para atacar inimigos, afugentar invasores, além de ser o instrumento de ensino dos mestres em artes marciais -, etc.
O bambu é um planta de mistérios e, por isso mesmo, muito bem relacionada a Pã, pois, assim como o Deus que funde a besta e o celeste em si, o bambu pode ser visto como uma planta dos pobres, por servir como cerca de galinheiro, base de talheres e que apodrece, além de também ser visto como material exótico mais resistente que o próprio metal, visto que enverga, mas não quebra. Pode-se trabalhar com essa planta em diversos trabalhos mágicos ligados à harmonia, sabedoria, sexualidade, expansão da consciência, conexão com as forças naturais e divinas, necromancia, proteção, banimento, guerras mágicas, desenvolvimento do dom da empatia, adaptação ao meio social, contato com a Sombra e aumento de poder.
Dallan Chantal
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