Por que tem que ser tão difícil? Por que tem que haver tanto ódio? Por que tanto desprezo por alguém que é da mesma espécie? Quanto tempo será preciso para nos lembrarmos de que somos todos iguais?
Eu estou muito triste. Desapontado até. Já adentramos a nova era astrológica que será marcada pela razão, pelo humanismo e pela expansão das ideias, mas ainda existem humanos que insistem em querer viver de miséria e de opressão. Não basta?! Pra que continuar no fanatismo marcado por uma Era que já se encerrou? O homem sempre será o lobo do próprio homem?!
Sim, esse é um texto de desabafo. Desculpem, mas se quiserem pular para a próxima postagem, sintam-se livres. No entanto, aqueles que quiserem ler até o fim, espero que minhas lágrimas sirvam para algo e assim transforme vocês. Digo isso porque estou cada vez mais cansado e envergonhado de ser e pertencer a raça humana.
Todos os dias eu abro uma página de internet, ligo a televisão ou sintonizo a rádio e o que vejo é sempre morte, dor, racismo, preconceito... Enfim, intolerância. Mas, não se trata apenas de uma intolerância a algo que te desagrada. Sim, todos somos intolerantes com algumas coisas. Eu, por exemplo, não gosto de ouvir resmungos. Porém, também não vou sair por aí tacando pedras, lâmpadas ou “metendo a porrada” em pessoas que resmungam o tempo todo e que não fazem nada para modificar aquilo que lhes desagradam. O problema é quando a intolerância exacerbada vem pelo simples fato de que outras pessoas são diferentes.
O que vejo dói profundamente na minha alma. Dói pelos negros. Dói pelas mulheres. Dói pelos homossexuais. Dói por aqueles que não são cristãos. Dói porque temos cada vez mais chance de sermos libertários, respeitosos e igualitários, mas caminhamos na direção contrária! Ai, quantos ais.
Vejo uma mulher que apenas queria voltar da faculdade de forma tranquila para casa. Ela não estava vestindo nada provocante, nada que insinuasse ou que desse a liberdade para alguém importuná-la. Ela não “atentava contra o pudor”! Mas, ainda assim ela foi perseguida e abusada na própria faculdade. Agora o que ela faz? Esconde-se com medo, não frequenta mais as aulas e entrou em depressão. Está prestes a cometer suicídio. E o que fazemos? O que você faz para ajuda-la?
Vejo uma mãe gritando em prantos e segurando seu filho morto nos braços. Ela é uma mãe!!! Aliás... era. Agora, ela não tem mais a alegria nos olhos porque o orgulho de sua vida foi tirado por uma arma de fogo pelo simples fato de que ele passou em frente a um bar andando. Ele tinha trejeitos. Ele era afeminado. Mas, ele só queria se divertir, só queria sair pra encontrar seus amigos e viver a vida dele. E, então, não mais vida. Ele tinha acabado de arranjar seu primeiro emprego. Mas, era “viado”. E “viado” bom é “viado” morto. Mas, por quê?
Vejo uma criança chorando no banheiro da escola. A tia da cantina pergunta pra ela o que aconteceu. Ela diz que as coleguinhas implicaram com ela por causa de sua mochila nova e rosa, cheia de borboletas. As coleguinhas disseram que ela não poderia ter ganhado de presente uma mochila como aquela porque é cara e gente como ela não tem dinheiro pra comprar esse tipo de coisa. Assim, elas afirmaram que ela só poderia ter roubado! Ainda citaram o fato dos cabelos crespos dela parecerem uma bucha de Bombril. Ela tem profundos olhos negros. A pele dela é da cor do ébano. Ela chora com profundo pesar porque ela não entende o que aconteceu. Por que as coleguinhas quiseram humilhá-la? Ela só tem 7 anos. Mas, os pais das coleguinhas que ensinaram isso para suas filhas têm mais de 30. É isso que você ensina para seus filhos também? Essa menina de pele cor de ébano e olhos negros agora pensa em querer ter nascido diferente, pelo menos para não ser caçoada. Ela agora renega quem ela mesma é.
Vejo também vários cacos. Sim, destroços. Parece que passou um caminhão por aquela casa e derrubou, destruiu e, por incrível que pareça, esse caminhão também pichou a parede dessa casa com a seguinte frase: “Pecador!”. Por quê? O dono da casa, Pai Murilo, sempre serviu a comunidade em que mora, sempre deu alimento àqueles que pediram em sua porta, sempre na virada de ano deu cestas básicas e roupas às famílias carentes. Mas, nesse instante ele se vê perseguido por aqueles que não professam as mesmas crenças que ele. Ele chora pelo maltrato com que os outros afligiram os seus deuses. Ele só pensa “em que foi que eu errei? Meus Deuses também falam de amor!”. Ele sente uma tristeza indescritível, porque ele nunca fez isso nas Igrejas da redondeza e mesmo depois disso ainda não pensa em fazer tal coisa. Sabe que seus Orixás estão contigo, sente a presença Deles dançando ao seu redor. Mas, também sente o ódio daqueles que o rodeiam.
São quatro histórias. Quatro caminhos. E todos marcados pelo desespero. O desespero de ser gente, de ser quem é, de ser vivo. E porque as pessoas infligem esse tipo de dor ao próximo? De novo, e de novo, e de novo, e de novo...? A intolerância pela diferença vai mudar a vida dessas pessoas? Vai torna-las mais felizes? Vai melhorar a situação financeira e afetiva delas de alguma forma? Creio que não. Mas, me questiono de novo: então, por que fazer isso? Essas vítimas são todas dignas de asco e horror?
O que está faltando para esses agressores é compaixão, empatia, compreensão, amor e paz.
Eu não preciso ser negro para entender como é ser negro. Assim como não preciso ser mulher, homossexual ou de uma religião que não seja cristã para me colocar no lugar deles e perceber que somos todos seres humanos buscando viver nossas vidas da melhor forma possível. Classificar todos como pobres, favelados, dignos de pena, impuros, inferiores e pecadores é fazer um julgamento perverso sobre quem eles são. Imagine acordar todos os dias sabendo que pela cor da sua pele, pela sua orientação sexual, por ter uma vagina ao invés de um pênis ou simplesmente por não acreditar no que a sociedade espera que você acredite é possível que você seja agredido, assassinado, perca o emprego, sofra bullying, seja alvo de chacotas ou olhares maldosos. É horrível! E isso acontece todos os dias aqui no Brasil.
O Brasil, a terra da miscigenação, de todos os povos, do carnaval, será também a terra dos homicídios, da segregação, da misoginia e do racismo? Você vai permitir isso mesmo?
Eu sou branco. Sou homem. E sou gay! Tenho uma irmã que é mulata. Tenho uma mãe. Tenho um amigo que é bruxo. Essas histórias que contei não são nossas. Mas, a qualquer momento podem se tornar. Isso porque os intolerantes, fanáticos e ignorantes não querem aceitar e enxergar que não é de singularidade que é feito o mundo, mas de pluralidade! Sabia que da mesma forma como pode acontecer comigo, com minha irmã, com minha mãe ou com meu amigo, também pode acontecer com pessoas próximas e caras a você? Sim, com sua própria família? Você gostaria disso? Tenho certeza que não. Ninguém quer.
Então, peço perdão a todas as mulheres. Vocês são maravilhosas, poderosas e sem vocês ninguém teria vindo ao mundo! Peço perdão aos negros. Vocês são lindos, cheios de orgulho de si mesmos e ancestrais de toda a humanidade, pois o esqueleto humano mais antigo já encontrado é de uma mulher africana negra. Vocês são a origem de todos os humanos! Peço perdão aos homossexuais. Vocês são alegres, divertidos e trazem brilho e cor ao mundo. Como seríamos mais “baunilha” sem vocês! Peço perdão àqueles não cristãos. Vocês são tão mágicos, ricos de cultura e sabedoria quanto qualquer outro cristão. Sem vocês, o cristianismo nem existiria!
Essas palavras estavam presas há muito tempo dentro de mim. Mas, tive que expurga-las, pois se não sufocaria com elas. Obrigado a todos que me ouviram. Por fim, peço apenas uma coisa:
SEJAM MAIS HUMANOS!!!
Dallan Chantal
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