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O MAGO NUNCA SE ATRASA

A luta entre Hórus e Set


                                                       A luta entre Hórus e Set.

Certo dia, no fim da tarde, Set estava caçando uma gazela e acabou se perdendo. Saiu andando e maldizendo o destino que o obrigava a procurar seu caminho ao escurecer. De repente, sob a luz do luar, ele avistou uma arca de madeira preciosa, ricamente entalhada. Levantando a tampa, reconheceu seu irmão Osíris, de rosto fino e pele morena. Enfurecido, Set cortou o corpo de Osíris em quatorze pedaços e os espalhou para todos os lados.

Uma voz sem rosto nem boca advertiu Ísis daquele feito odioso. De inicio, a deusa sentiu que ia desanimar, mas, encorajada pela voz, ela se recuperou e resolveu reagir. Subiu em uma canoa feita de papiro e começou a percorrer os pântanos. Por medo ou por respeito, os crocodilos se afastavam á sua passagem.

Cada vez que Ísis achava um pedaço do corpo de Osíris, ela o colocava dentro da canoa e depois erigia um tumulo no lugar onde o tinha encontrado. Para despistar as buscas de Set e seus cúmplices, ela fez tantos monumentos quanto foram os pedaços encontrados. Então convocou os grandes sacerdotes, anunciando a cada um deles que lhe confiaria a sepultura de Osíris. Assim, Set ficaria desnorteado com tantas informações diferentes.

Depois de encontrar todos os pedaços do corpo de Osíris, Ísis chamou sua irmã Néftis e os amigos Tot e Anúbis. Juntos, eles conversaram, recordando em altos brados os ensinamentos e as confidencias do “ser bom”. O próprio eco das palavras do deus lhes revelou o segredo que o lavaria a uma nova vida.

Então, usando sua magia, num piscar de olhos Ísis inventou um remédio que conferia a imortalidade. Sob o olhar interessado dos bons deuses, Ísis e seus aliados juntaram os restos de Osíris para proteger suas carnes da deterioração. Por uma delicada operação de embalsamento, eles criaram a primeira múmia do mundo.

Com os cabelos soltos e vestindo trajes de luto, Ísis e Néftis suplicaram ao “ser bom” que voltasse a habitar seu corpo assim reconstituído. Balançando a cabeça Ísis cantava:
- Volta à morada que é tua. Teus inimigos estão ausentes. Vem para aquela que te ama, Unnefer, cujo coração parou de bater.

            Néftis, por sua vez, também cantava balançando a cabeça:
- Volta á morada que é tua, belo príncipe, para nos alegra.

Foi realizada então uma cerimônia de “abertura de boca”, para devolver a Osíris a capacidade de usar os lábios para comer e beber, para pronunciar palavras de ordem e de amor. A energia vital de Osíris foi lhe devolvida, depois de cem manipulações. Seu rosto foi tocado com um forcado de sílex e um machado, um boi foi sacrificado. Ele recuperou o uso das mãos para agir, dos olhos para enxergar, das pernas para andar.

Osíris estava ressuscitado. Subiu ao céu para lá viver eternamente, como o bom deus dos mortos, abrindo para os homens as portas de uma existência sem fim. A partir de então, ele iria renascer como grão, que é enterrado na semeadura e sai do solo da primavera. Iria renascer como o Nilo, que é despertado de sua morte pela enchente anual.

Pouco tempo depois de Osíris chegar ao céu, Ísis deu á luz a um filho, em Chemnis, nos pântanos do lago Burlos, não muito longe de Buto. A criança nasceu no meio dos juncos. Era Hórus, filho de Ísis, carne da carne de Osíris. Assim como fizera pelo príncipe de Biblos, a deusa o amamentou pondo-lhe um dedo a boca. O menino cresceu na mais absoluta solidão, vigiado noite e dia pela mãe, sempre atenta. Ísis temia que Set viesse rondar aquelas paragens. Ele já havia afogado Osíris e despedaçado seu corpo.

Ísis não esquecia que os egípcios haviam se calado quanto ela interrogava em busca do corpo de Osíris. Será que temiam as represálias de Set? Só aquele menino de cachos morenos tinha falado em Biblos, um vento violento tinha soprado. Seria por ordem de Set? E se ele ficasse sabendo que o filho de Ísis e Osíris tinha nascido e vivia em Chemnis, o que seria capaz de fazer?

Então Ísis vigiava, carinhosa e atenta, aguçando os ouvidos ao menor ruído, inquieta e tensa. Set era a seca abrasante do deserto, o mar e suas ondas mortais, o sal e os peixes de sua água. Set era o mal.

Hórus sorria e brincava. Criava inimigos imaginários e escondia-se deles no mundo misterioso das moitas de papiros. Para alimentá-lo, Ísis se disfarçava e saía para pedir comida, estendendo a mão como uma mendiga, escondendo o rosto com abas de suas roupas esfarrapadas.

Mas seria ingenuidade achar que todos esses cuidados a livraria de todos os perigos. Certa vez, enquanto esmolava, Ísis teve um pressentimento e voltou correndo para Chemnis. No caminho, uma voz sem rosto e sem boca a dizia para correr mais. Ao chegar, encontrou Hórus deitado, sem forças, pálido. Debruçou-se sobre o menino e sentiu que seu coração batia de forma debilitada, quase parando. A mãe gritou por socorro, para que a terra inteira a ouvisse. Gritou seu desespero, pedindo ajuda.

A feiticeira da aldeia mais próxima atendeu a seu chamado. Ao ver o menino imóvel, encarou Ísis com seus velhos e sábios olhos:
- Quem é você, para que seu filho tenha sido picado por um escorpião? Será que você teme tanto o mal que ele acabou chegando aqui? Se foi Set que mandou este animal, nada posso fazer. Apesar de todo meu poder de feitiçaria, esse veneno não consigo combater.

Em outros tempos, Ísis tinha sido capaz até de secar o leito de um rio. Agora, totalmente entregue á sua dor, ela nem conseguia se lembrar de sua própria magia. Gritou tanto, que seus lamentos chegaram aos céus. Foi atendida por Néftis, sua irmã, que acudiu trazendo Selket, a deusas dos escorpiões. Selket examinou a criança e disse que naquela fase do envenenamento não se podia fazer mais nada e o melhor seria já vestir roupas de luto.

Néftis, que compartilhava a dor de Ísis, falou á irmã:
- Tente fazer parar o barco do Sol.

Ísis olhou para Hórus e voltou á razão. Voltou-se para o mais profundo de si mesma. Lembrou-se do seu poder, levantou a cabeça, fixou o olhar intensamente no céu e imobilizou o barco divino, fazendo o tempo parar.

- O que está acontecendo? – Berrou Rá. – Por que esse barco não anda? Tot, vá lá embaixo saber o que houve.
O senhor do calendário, preocupado com a paralisação do tempo, foi até Chemnis. Ao ver aqueles lamentos, logo entendeu o que estava acontecendo.
- Ó Rá, concede-me plenos poderes. Hórus, filho da filha de Geb, foi picado por um escorpião. O veneno entrou em seu corpo e esta circulando por sua carne.
Tot esperou um instante e, depois, lançou um olhar penetrante sobre Hórus.

Tot sabia que, numa certa ocasião, sete escorpiões haviam escoltado Ísis para protegê-la contra Set. Téfen, o chefe deles, havia picado o filho de uma mulher, que não permitia que a deusa entrasse em sua casa. Depois disso, por sortilégio, a casa da mulher pegara fogo. Com sua magia, a deusa salvara a criança e fizera cair chuva do céu para apagar o fogo. Tot compreendeu que agora parte da magia de Ísis cedera lugar a aflição.

- Vá embora, veneno – disse Tot, enquanto a deusa estendia o filho para ele -, espalhe-se pelo chão, deixe o corpo deste inocente, mergulhe para sempre nas águas do pântano.
- Acorde, Hórus, pelo amor de sua mãe, para que o tempo volte a avançar, para vingar seu pai.
Hórus abriu os olhos e sorriu. O coração de Ísis se encheu de alegria. A missão de Tot estava cumprida, e ele voltou a subir no barco do tempo.

Hórus cresceu no meio dos papiros e dos juncos. Seu coração se fortalecia e seu espírito se tornava a cada dia mais arguto.
Certa vez, Osíris deixou seu reino distante para vir passar um dia inteiro na terra. Desejava amar seu filho e treiná-lo para a luta. Chegada a hora do crepúsculo, Osíris perguntou ao menino qual era a mais bela ação que alguém poderia realiza.
- Vingar seu pai e sua mãe caso eles tenham sido tratados indignamente.
- Muito bem. Agora me diga qual é o animal mais útil ao guerreiro.
- O cavalo, sem duvida.
- E por quê? O leão é o rei dos animais, fulgurante como o olho do sol. Será que ele não seria capaz de engolir e cuspir Set e seus cúmplices, inimigos dos deuses?
- O leão é útil para defesa, mas o cavalo é indispensável para dispersar o inimigo e exterminá-lo quanto ele foge.
Osíris balançou a cabeça e sorriu para Hórus. Certo de que o filho estava preparado para o combate, o deus voltou para sua morada distante

Então chegou o tempo da guerra. Hórus saiu do pântano e se mostrou ao mundo. Os egípcios que tinha permanecido fiéis a Osíris se apresentaram para servir seu filho. Resolutos, marcharam contra os cúmplices de Set. apavorados, estes se metamorfosearam em gazelas, em crocodilos e também serpentes, animais impuros.


Enquanto suas tropas lutavam, Hórus e Set lançaram-se um contra o outro, lutando violentamente durante três dias e três noites. Set era um usurpador assassino; Hórus queria vingar seu PI e ocupar o trono.

Na manhã do quarto dia, preocupada quanto ao resultado do duelo, Ísis acorrentou os adversários pra impedir que continuassem com o combate, Hórus protestou:
- Por que está entravando os movimentos de seu filho?
Perturbada, a deusa ordenou que a corrente de Hórus se rompesse, e foi o que aconteceu. Então Set reclamou:
- Não esta reconhecendo seu irmão? Não tem pena do filhos de Geb e Nut, que também são seus pais?
Comovida, Ísis ordenou que a corrente de Set o soltasse. E a corrente obedeceu.

Livres, os dois deuses voltaram a se enfrenta, como dois homens incapazes de entendimento. Furioso, Hórus voltou-se contra Ísis:
- Por que soltou minha presa? Afinal, não foi Set que matou meu pai? Não foi ele que retalhou seu corpo?
Enraivecido, o filho ousou a arrancar com suas próprias mãos o diadema real da mãe. Tot, que calculava o numero de golpes que os combatentes desferiam um contra o outro, ficou surpreso e chocado com aquele geste. Tratou então de arranjar outra coroa para a rainha, e pediu emprestado á deusa Hátor um capacete de cabeça de vaca mansa. Depois Tot voltou a contar.

Hórus e Set lutaram durante dias e dias, durante meses e meses e anos, mas nenhum deles conseguia ganhar definitivamente. Muitas vezes Set achou que estava prestes a vencer o deus com cabeça de falcão, mas Hórus retornava a batalha com energia renovada. Também muitas vezes o filho de Osíris achou que a luta conta contra Set estivesse ganha, mas o deus de corpo de cão lebréu recuperava sua energia maligna e retornava ao combate.

Certo dia, Hórus e Set, exaustos, resolveram em comum acordo comparecer diante do tribunal dos deuses, a grande Enéade.

Então começou o julgamento que deveria decidir qual dos dois príncipes ocuparia o trono de Osíris, o “ser bom”.
Infinitas vezes Hórus expôs suas razões e defendeu seus direitos. Infinitas vezes Set argumentou contra seu adversário. Depois de ouvir cada um deles, os deuses da Enéade não conseguiam deliberar. Desejando decidir com justiça, sempre pediam para que os dois falassem de novo.Tot contava mês por mês, e já tinha marcado novecentos e sessenta em seu papiro. Na manhã do dia vinte e nove mil duzentos e um, Shu falou diante de Prá-Harachte, o mestre universal.
- A justiça prevalece sobre a força. A função real deve ser dada a Hórus.
- Está certo! – Exclamou Tot.
Ísis alegrou-se ao ouvir essas palavras e, aproximando-se de Prá-harachte, pediu que o vento norte soprasse na direção do ocidente para levar a boa nova até Unnefer. Irritado, o mestre universal franziu o cenho:
- Com que autoridade vocês estão tomando a decisão sozinhos? Ora, a palavra final cabe á grande Enéade.
- Mandem nós dois lá para fora – disse Set. – Vou lhes mostrar qual é o braço mais forte!
- Mas vocês já lutaram durante anos e anos! – Replicou Tot. – Por isso mesmo estão aqui. Ora, por que dar a coroa do Egito para Set se o filho dele está aí, vivo?
Ouviu-se então a voz de Neith, mãe divina de Rá:
- Concordo com Tot. há oitenta anos vocês estão discutindo esse caso e não chegaram a nenhuma conclusão. Dêem a Hórus o que lhe cabe!
- Está certo! – disseram os outros deuses.
Então o mestre universal, que era a favor de Set, ficou furioso com Hórus:
- Você tem constituição fraca! A função de rei é importante demais para ser exercida por um menino como você! Sua boca ainda cheira leite!
- Isso mesmo! – Disse Set. – Eu sou o mais forte! Todos os dias assumo o comando do barco dos milhões de anos e mato todos os inimigos. Quem seria capaz de fazer o mesmo? O trono é meu!
- Está certo! – Exclamaram os deuses.

Ísis então se levantou contra a Enéade ameaçando lançar raios fulminantes se despojassem seu filho do trono. Conciliadores, os deuses pediram-lhe que se acalmasse, prometendo que agiriam conforme a vonntade dela.         

Set então se levantou e, com voz gélida, disse que pegaria seu cetro e mataria a cada dia um dos deuses daquela Enéade, que mudavam de idéia toda hora. Depois declarou que não discutiria mais no tribunal enquanto Ísis estivesse lá.

- Então vamos julgar os dois na ilha do meio – propôs o mestre universal. – Direi a Anti, o barqueiro, que não leve em sua embarcação nenhuma mulher que se pareça com Ísis.

Os deuses da Enéade foram todos de barco para ilha do meio. Sentaram-se na relva, debaixo dos sicômoros sagrados, comendo pão e bebendo vinho, que era despejado de moringas alto de fundo pontudo.

Ísis ficou olhando por algum tempo e depois transformou-se em uma velha enrugada. Arqueada e mancando, com um anel de ouro na mão e carregando uma cesta, ela se aproximou do barqueiro Anti e pediu:
- Por favor, leve-me até a ilha, onde meu filho é pastor de rebanhos. Ele deve estar com muita fome, e quero levar-lhe um pote de farinha.
- Recebi ordens de não levar nenhuma mulher em meu barco.
- Fiquei sabendo. Mas a proibição não se refere apenas à deusa Ísis?
- A Ísis e a qualquer mulher que se pareça com ela.
- E você acha que há alguma semelhança entre mim e a deusa?
Anti a observou desconfiado, e disse:
- O que tem para me dar se eu a levar até lá?
- Levo na cesta um bolo delicioso.
- Acha que vou arriscar minha função por um bolo?
- Ora, como você é teimoso! Eu não sou a deusa nem me preço com ela. E se eu lhe der este anel? É d ouro. Veja como brilha.
Os olhos de Anti faiscaram de cobiça. Depois de hesitar por um instante, ele disse:
- Bem... Vamos lá, me dê este anel e suba no barco.

Ísis chegou à ilha do meio. Caminhando sob as arvores, deu com Set, taciturno, isolado da Enéade que se regalava. De repente, ele se virou para o seu lado. Dessa vez, Ísis se transformou em uma bela moça, de corpo e rosto perfeitos. Set veio ao seu encontro.
- Você é linda, sabia? Gostaria de lhe fazer um pouco de companhia.
- O que mais desejo agora é alguém que seja compreensivo, pois grandes desgraças se abateram sobre mim.
- Pois fale, sou todo ouvido. Talvez possa consolá-la.
- Eu era feliz a esposa de um pastor de rebanhos. Para sua alegria, dei-lhe um filho de nossa união. Mas, infelizmente meu marido teve uma doença e morreu. Então cheio de coragem o menino passou a cuidar do rebanho do pai. Embora com tristeza, passei a me acostumar com a nova vida, até que um dia um estrangeiro chegou a minha casa. Ameaçou a nos expulsar e disse a meu filho: “Vou espancá-lo se não der as chave do estábulo. Agora o rebanho do seu pai é meu.” Quero uma reparação já que demonstrou tanto interesse por mim, aceita ser meu defensor? 
- Claro! Quem não assumiria sua causa? Como é possível tomar bens de um homem morto quando o filho do pai de família está ali, vivo e ativo?

Então Ísis abandonou aquele belo corpo que fora seu por alguns instantes para enganar Set. transformou-se em um Milhafre real, levantou voou e foi pousar no galho de um sicômoro sagrado. Depois se dirigiu a Set:
- Pode começar a lamentar sua sorte, Set! você mesmo acaba de pronunciar a sentença desse julgamento que já dura oitenta anos! Finalmente!

O deus de corpo de cão lebréu sapateou de raiva. Tinha falado tão alto, que os deuses se levantaram e se aproximaram. Ofuscado pelo desejo de seduzir a jovem mulher, fascinado, não vira a Enéade chegar.

- Você julgou a si mesmo, Set! conforme suas próprias palavras, que acabo de ouvir, comece a lamentar sua própria sorte – Disse Prá.

Havia pouco, os pratos da balança estavam em equilíbrio. Agora a Enéada pendia para o lado de Hórus. Para castigar o barqueiro Anti, os deuses lhes cortaram os dedos dos pés. Depois abandonaram a ilha do meio e foram sentar-se ao pé da montanha da margem ocidental, para deliberar.

Apesar de sua confissão, Set continuava se defendendo tenazmente. Mas agora estava sozinho. Sentindo a virada dos ventos, o mestre universal deixou de proteger Set para voltar a sua função de arbitro e presidente da Enéade.

 Mas Set não era deus de baixar a cabeça e se dar por vencido. Outras lutas aconteceram. Houve uma entre os dois deuses transformados em hipopótamos. Em outra eles se enfrentaram dentro da água. Ambos sempre mostraram a mesma força. Finalmente, no entanto, parecia que o espírito de Hórus tinha vencido. Com paciência esgotada, o deus falcão levantou a voz:
- Há oitenta anos estamos na frente deste tribunal. Nunca o direito de Set foi definido formalmente, embora milhares de vocês tenham me dado razão. Como ficamos?

Então Tot, o deus calculador, senhor do tempo e patrono dos escribas, propôs a Prá-Harachte que ouvisse a opinião de Osíris. Toda a Enéade aprovou. Tot então apoiou sua paleta no ombro esquerdo, pegou o cálamo, que é uma haste de junco apontada, e pôs-se a escrever num papiro.
Mensageiros intrépidos foram enviados ao reino de Osíris, que reinava sobre os mortos, e voltaram com a resposta do “ser bom”.

“Por que agem tão mal com meu filho Hórus? Não fiz de vocês seres Fortes? Quem lhes propiciou o uso do trigo e da cevada para alimentar os deuses, homens e animais? Ouça mestre universal, você fez uma boa coisa ao cria a Enéade. No entanto permitiu que a justiça fosse desprezada. Cuidado! O país em que moro está cheio de mensageiros violentos, que não temem nenhum deus ou deusa. A um gesto meu, eles irão arrancar os corações daqueles que cometeram más ações. Tratem de voltar ao caminho dos justos!”

Correntes caíram do céu sobre o deus de corpo de cão lebréu e Ísis o levou arrastado até a presença da Enéade.
- Por que está querendo se apodera do trono?
- Ora, não é por nada, senhor Prá. Hórus deve receber a função de seu pai.

Então o deus-falcão recebeu a coroa e foi se sentar no trono de ouro.

           
            - Que o país inteiro se alegre – disse o mestre universal. – O faraó vive, o rio sobe, os dias são longos, a noite tem suas horas exatas, a lua volta regularmente. Prosterne-se, terra do Egito, diante do seu soberano, que é Vida, Saúde e Força.

            Depois Prá perguntou o que deveria fazer com Set.
            - Ficará morando com você – disse Hórus. – Considere esse filho de Nut e Geb como seu próprio filho. Seus urros anunciarão os temporais e tempestades e todos o temerão.



Texto original: Les plus belles legendes de La mythologie.

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